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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O modelo — que nos anos 30 era compartilhado por Popper, Hempel e seus seguidores — dizia que a explicação podia ser entendida como uma espécie de dedução .....

Apel — Sempre discordei de Hempel. Vou mais longe. No ponto atual das discussões, o esquema de explicação de Hempel/Oppenheim, ou o esquema de Popper, não funciona sequer nas próprias ciências naturais. É muito importante sublinhar, antes de entrar em detalhes técnicos relativos às ciências humanas: esse esquema de explicação não é relevante nem mesmo nas ciências naturais. O modelo — que nos anos 30 era compartilhado por Popper, Hempel e seus seguidores — dizia que a explicação podia ser entendida como uma espécie de dedução (dedução do explanandum — o que deve ser explicado — a partir do explanans — as condições que explicam), sendo o explanam,, constituído de leis e condições antecedentes. Assim, a estrutura lógica da explicação seria a mesma da predição. Acho que isso é completamente superficial e falso. Acho que Peirce sempre teve uma definição muito melhor de explicação nas ciências naturais. Para ele, explicação nas ciências naturais não era dedução do explanandum a partir do explanans, mas sim o achar de um explanans a partir do qual fosse possível deduzir oexplanandum, no caso de uma explicação causal. Fica claro que, na explicação causal, apenas parte da explicação tem estrutura dedutiva. Mas a parte mais importante é encontrar o explanans a partir do qual se possa deduzir o explanandum. Fazer isso requer uma inferência sintética, o que Peirce chamava inferência abdutiva. E essa é a parte realmente criativa, inovadora, onde os cientistas têm de criar um tipo novo de conhecimento sintético. Não é apenas indução, mas também abdução. Abdução é o passo mais importante no desenvolvimento do conhecimento. Por isso, é importante diferenciar entre o modelo de Hempel/Oppenheim (e o primeiro modelo de Popper) do modelo de Peirce para explicação nas ciências naturais, porque isso mostra que a estrutura da explicação não é exatamente a mesma da predição. Você conhece o exemplo de Hempel sobre o carro (o radiador de um automóvel estoura numa noite fria; o evento pode ser explicado em termos de leis físicas conhecidas — por exemplo, " a água aumenta de volume quando congela" — e de condições antecedentes do tipo "o radiador estava cheio e tampado", "ontem fez muito frio", etc.). Esse famoso exemplo é completamente equivocado. Ele pressupõe a principal característica da explicação, ou seja, que você já tem o explanans de onde pode deduzir o explanandum, da mesma forma que alguém é capaz de predizer alguma coisa. Mas esse é o caso somente quando não há ciência inovadora, quando você tem apenas uma ocorrência em mãos e a deduz a partir do que já é sabido. Na ciência real, o problema é bem outro. O problema de achar uma explicação é o de achar um novo explanam, encontrar novas hipóteses de leis, fazer novas hipóteses nomológicas. Não é o caso de apenas achar novas condições antecedentes. Existe um passo abdutivo, uma conquista sintética. Se se levar isso em consideração — e eu sou um peirceano, não só aí, mas também em outros aspectos —, então a questão se torna: " Quais as dificuldades para se encontrar o que equivalha a explicações nas ciências humanas e nas ciências naturais?". Agora, entro com minhas idéias — e de Habermas — acerca de diferenças de interesse cognitivo. Primeiro, coloco que existe uma diferença de interesse cognitivo entre as ciências naturais típicas (que estão interessadas em explicação causal, nomológica ou estatística) e as ciências hermenêuticas, as humanidades. Mas, de novo, eu diria que, dentro do espectro das ciências sociais, existem questões muito diferentes, de acordo com interesses cognitivos muito diferentes. De novo, existe um tipo de ciência social que está muito próximo das ciências naturais e da tecnologia. Por exemplo, as ciências do comportamento, onde se quer, em muitos casos, explicar o comportamento de consumidores, ou de votantes, e se tenta tratar os seres humanos como porções da natureza. Isso nunca é realmente possível, mas se tenta encontrar qual seria o comportamento médio de uma amostra e que predições seria possível fazer. É claro que existe um grande interesse em tecnologia social no sentido de se ter um certo tipo de controle sobre seres humanos, como se eles fossem objetos das ciências naturais. Mas isso não é possível completamente. Sabemos que existem coisas como a autocontradição. Isso nunca acontece com porções da natureza. Mas, no caso das ciências sociais, os objetos são parceiros de comunicação e se eles têm conhecimento acerca de o que o cientista sabe sobre eles, então eles intervém com suas próprias decisões e podem produzir autocontradições, coisa que nunca aconteceria em ciências puramente naturais. É somente esse tipo de ciência social que está próximo das ciências naturais, e pode ser estilizado com um método estatístico nomológico, etc. E tem trazido alguns resultados. Mas é muito diferente das humanidades típicas, ciências puramente hermenêuticas, como por exemplo história da ciência ou história da cultura como um todo. Aqui, existem questões de tipo radicalmente diferente. Não pergunto, quando quero saber " como isso foi acontecer?" por causas e leis. Isso seria absurdo. Pergunto "por que razões eles fizeram isso?". Razões que podem ser boas ou ruins. Assim, graus entram em cena. Por exemplo, é muito irônico que pessoas como Karl Popper, que antes eram a favor de ciência social neutra em termos de valores (como o era Max Weber), tenham, depois, chegado a um ponto de vista completamente distinto. Na controvérsia com Thomas Kuhn, e temendo o perigo do relativismo, Popper tornou-se atento à problemática da história da ciência. Notou que ela fazia parte das humanidades e, assim, não era neutra em termos de valores. Para reconstruir a história da ciência era preciso recorrer a conceitos como boa má ciência. O discípulo de Popper, Imre Lakatos, postulou a distinção entre história interna e externa da ciência. Primeiro, era preciso reconstruir a história da ciência do ponto de vista interno. Depois, num outro passo, seria possível procurar por uma reconstrução externa, mas apenas quando a reconstrução interna já não fosse possível. Você tem aí uma distinção bem evidente, que deixa clara a parte hermenêutica, a qual não é neutra, tem valores e pretende entender e avaliar a história da boa ciência. Essa história é um processo no qual existe progresso. A transição para a reconstrução externa só acontece se necessário. Lakatos formulou seu princípio assim: "reconstrução interna tanto quanto possível". E isso é precisamente o princípio de Gadamer de " antecipação da perfeição" na interpretação hermenêutica. Esse é também o princípio de caridade em Quine e Hanson. E um princípio hermenêutico o de que devemos tentar compreender e avaliar de forma positiva tanto quanto for possível. Só se isso não for possível é que fazemos a transição.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141992000100011

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