Se há algo que me diverte na internet é a constante ira pelas quebras de privacidade. Vamos lá entender uma coisa de uma vez por todas: a privacidade e anonimato na internet não existem. São utopias, coisas pelas quais lutamos mas que nunca existiram nem vão existir.
Tudo o que colocarem online poderá sempre ser revelado e ligado a vocês. Só não o é por não ter interesse ou por interesses maiores se moverem. Ponto. É óbvio que o vosso conteúdo não é de domínio público e deveria ser acedido apenas pelo seu criador ou por aqueles a quem este deu esse direito, mas pela forma como a internet foi criada isso é impossível e até hoje não existe uma forma de garantir a 100% que tal aconteça.
Como tal, tudo o que existe online - ou mesmo num dispositivo ligado à internet – pode a qualquer momento ser revelado. Aquilo que me diverte é que, na maioria dos casos, a luta pela privacidade é um principio sem grande substância pois a informação que pretendemos guardar a sete chaves não tem qualquer interesse.
Na Pré-História, coisas como a privacidade não existiam. Todos sabiam da vida uns dos outros e não havia segredos. Com o crescimento das populações, este e outros mitos foram sendo criados e são hoje cavalos de batalha, razões de existir e motivos de discussão para as massas.
Se eu escrever um texto e o guardar numa folha de papel, numa gaveta de minha casa, em principio ninguém terá acesso a ele. No entanto, qualquer pessoa que visite a minha casa e que comece a coscuvilhar as minhas gavetas, vai ter acesso a essa folha. Se a minha casa for assaltada, essa folha poderá mesmo passar para mãos alheias.
Ou seja, o nível de privacidade do texto nessa folha é relativamente alto, mas não por completo. Posso, no entanto, dar essa folha a alguém que tenha um cofre para a guardar. Nesse caso, o nível de segurança passa a ser substancialmente mais elevado, mas outras questões se levantam: Quem mais tem acesso ao cofre? Existem outros valores nesse cofre que o tornam mais apetecível para um malfeitor? No transporte da folha até ao cofre, por quantas mãos passará esse texto?
Por tudo isto, pensem bem no que colocam online e mesmo nos dados que têm em dispositivos ligados à internet. Quando a Amazon começou, eles tinham dois computadores. Um, no qual tinham a loja online e outro que estava ligado ao banco.
Estes computadores não estavam ligados um ao outro e um empregado manualmente transferia os dados dos cartões de crédito de um computador para o outro. Assim, se um hacker conseguisse entrar na loja da Amazon, apenas tinha acesso aos dados da loja, pois era tudo o que existia nesse computador.
Texto de Hugo Gameiro
(Publicado a 20 Março 2014)
