Blog que começou com denuncia sobre o calendário MAYA, que seguiu em frente com particularidades ATUAIS de nossos DRAMAS do cotidiano e sobre o PORTAL DO QUADRADO que hoje tratamos da 4D para 5D...Ficando a critério de cada QUAL o que significa na realidade esses símbolos (ARCHÉS) que com o tempo são acrescentados ou diminuídos conforme a vontade de QUEM MANDA ou de quem é MANDADO......
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segunda-feira, 2 de abril de 2018
domingo, 1 de abril de 2018
Entrevista com Gedeon Freire de Alencar PENTECOSTALISMO
https://pentecostalismo.wordpress.com/2009/06/17/entrevista-com-gedeon-freire-de-alencar/
Entrevista com Gedeon Freire de Alencar
Gedeon Freire de Alencar é presbítero da Igreja Assembléia de Deus Betesda em São Paulo, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos (ICEC). É membro da Associação Brasileira de História da Religião, Associação de Professores de Missões do Brasil e da Rede de Teólogos e Cientistas Sociais do Pentecostalismo na América Latina e Caribe.
Alencar escreveu o livro de cunho sociológico Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses Sobre a (não) Contribuição Evangélica à Cultura Brasileira (Arte Editorial). No ano 2000, em seu mestrado na Universidade Metodista defendeu a dissertação: Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus. Assembléia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). Nessa dissertação faz uma interessante análise da história assembleiana a em sua primeira fase no Brasil.
Nessa divertida entrevista discutiremos um pouco sobre o pentecostalismo (ou pentecostalismos) no Brasil.
Blog Teologia Pentecostal: Qual a importância da Assembléia de Deus para o pentecostalismo do século XXI? Essa denominação ainda consegue influenciar as tendências pentecostais no Brasil?
Blog Teologia Pentecostal: Qual a importância da Assembléia de Deus para o pentecostalismo do século XXI? Essa denominação ainda consegue influenciar as tendências pentecostais no Brasil?
Gedeon Alencar: A AD é o elemento principal do que eu chamado de ” matriz pentecostal brasileira” (aliás, isto é base de meu projeto de doutorado que não consegui, por diversas razões, levar adiante).
As duas primeiras igrejas pentecostais são AD e CCB. A Congregação, nas primeiras quatro décadas fundamentais para sua formação, é uma igreja étnica- isso não é dito com mérito ou demérito. Além de ser ultra calvinista (talvez mais que o próprio Calvino): se tornou uma igreja fechada. Note: não estou afirmando que isto é bom ou ruim; estou fazendo uma constatação histórica. Hoje ela é bem parecida com o que era há anos atrás. Não mudou quase nada do seu modelo original. Isso implica que, por seu isolamento social, não teve influencia na formulação do pentecostalismo brasileiro, e muito menos, na produção cultural do país.
Já a AD desde cedo se “abrasileirou”, apesar da liderança sueca. Desde os primeiros anos a liderança assembleiana foi tomada (e tomada mesmo…) por nordestinos. A convenção de 30, a primeira, é convocada por líderes nordestinos contra a vontade dos suecos. Não estou inventando nem interpretando, basta ler os registros no Jornal a Boa Semente publicados nos anos mais “quentes” de 28 a 30.
A AD posteriormente, brasileira, nordestina, pobre, simples, periférica, sem dinheiro e ligação com o exterior, que em vinte anos (não com muito dinheiro, TV e política na mão) alcança o Brasil – é uma igreja brasileira, feita por brasileiros, e para brasileiros!
Uma ultima coisa: todos os demais movimentos, denominações e instituições que se “pentecostalizaram” ou se “renovaram” têm, ou tiveram, alguma influencia do pentecostalismo assembleiano. O costume da saudação da “paz do Senhor”, o hinário, o modelo patrimonialista, usos e costumes, a ênfase evangelística, a dinâmica e participação do povo, etc., todas estas questões estão presentes em todos os movimentos pentecostais, por mais independentes que sejam, e são originados da “matriz pentecostal assembleiana”. A AD é que nunca conseguiu capitalizar em cima disso.
02. Em sua dissertação sobre a Assembléia de Deus, o senhor destaca um papel forte da missionária Frida Vingren, esposa do co-fundador Gunnar Vingren, nas importantes decisões eclesiásticas da nascente denominação. Frida Vingren, como mulher, poderia ser classificada com um fenômeno inédito no cenário evangélico brasileiro?
Frida Vingren é, a meu ver, a maior heroína assembleiana e, ao mesmo tempo, a maior injustiçada da história assembleiana. Só se fala em Gunnar Vingren e Daniel Berg – típico de uma historiografia machista. Em 1917, ela sai sozinha e solteira da Suécia, passa nos EUA e vem ao Brasil para casar com Vingren. Aqui canta, ora, prega, escreve mais de 80% do jornal (Boa Semente), faz culto nos presídios, na Central do Brasil, escreve música e poesia, organiza a Harpa, escreve Atas, enfim, dirige a igreja! Seu marido desde o primeiro mês no Brasil é um home doente de malária, é ela quem carrega o piano! É exatamente por isso que ela tem muitos inimigos – desde os cabras machos nordestinos que não querem ser liderados por uma mulher ao seu contemporâneo Samuel Nystron que é contra a liderança feminina. No livro ” História da Convenção”, publicado pela CPAD, o jornalista Silas Daniel, resgata algumas cartas nada amistosas que Nystron e Gunnar trocaram.
Não é inédito porque a religião, não somente o pentecostalismo brasileiro, sempre teve grandes mulheres, mas como sempre marginalizadas. Ainda hoje é assim. Tem uma tese na PUC sobre as mulheres que pentecostais que o titulo diz tudo; “O silencio que deve ser ouvido”. E um trabalho de missiologia da Laura de Aragão, no CEM, é outro primor: “Escolhidas por Deus, rejeitadas pelos homens”
03. Gunnar Vingren não viveu muito para ver o desenrolar de sua obra missionária. Na sua dissertação o senhor especula que a Assembléia de Deus talvez poderia ter tomado “outro rumo” com os Vingren por mais tempo na denominação. Qual seria esse “outro rumo”?
Amigo, eu sou sociólogo, não vidente…
Gunnar Vingren era formado em teologia pelo Seminário Teológico Sueco de Chicago, era a favor da mulher no ministério – sua mulher é a prova disso. Na década de 20, no RJ, consagra mulher ao diaconato. E em sua época, as mulheres participavam, não apenas ouvindo, mas falando e dando palpites nas reuniões da igreja. Em todas as fotos oficiais de convenção tem mulheres. Registra em seu diário que pregou na Congregação Cristã. E também nessa época tinha manifestações de “risos no Espírito” de forma que não podia continuar pregando – se isto tudo é erro ou acerto, isso não é problema meu. Mais uma vez um aviso: não estou inventando nem interpretando. Tudo está registrado em seu livro “Diário de um pioneiro” e no Jornal Boa Semente. Gunnar não era (como os demais suecos e toda a liderança assembleiana), contra o ensino teológico e formação em seminários teológicos; era a favor da mulher no ministério; era bem aberto as demais igrejas de sua época; e tinha um pentecostalismo bem “original”.
Ficou poucos anos da liderança, ademais era um homem doente, como ele mesmo diz “a igreja estar bem liderada por minha mulher e os obreiros”, quem liderava efetivamente era Frida. Levou um golpe da liderança nordestina da época em 1930, foi embora, e morreu logo em seguida. É laureado como herói atualmente, mas em vida foi voto vencido em todos seus projetos. A AD dirigida por Gunnar Vingren seria bem diferente da que se formou. Melhor ou pior? Não tenho a mínima idéia, mas diferente com certeza.
04. Por que a Assembléia de Deus adotou um discurso tão ultra-conservador nos usos e costumes? A origem marginalizada “sueca- nordestina” seria uma explicação satisfatória?
O “ethos sueco-nordestino” que Paul Freston desenvolve em sua tese, e eu repito na minha (o Freston foi meu orientador e depois participou da banca de minha defesa de mestrado), é uma das melhores explicações para isto, mas não é a única.
Não precisa recorrer a décadas de história, basta ver o presente. Onde e quais as igrejas (sejam ADs ou quaisquer outras) são conservadoras em usos e costumes? Apenas – veja, apenas – nas regiões pobres e mais periféricas. Igrejas em processo de “aburguesamento”, de classe média para cima não conseguem – ou não querem – ser conservadoras. Mesmo as ADs que falam tanto em “preservar a doutrina”, mas se preserva a “doutrina” apenas para os pobres e das igrejas nas periferias. Igrejas sedes e de classe média não tem “doutrina” que as segure. Portanto, neste processo a AD não estar sozinha; isso acontece, e aconteceu, com todas as demais igrejas. Mesmo que alguns queiram ligar o fato de “uso e costumes” a ação do Espírito Santo, lamento, mas isso diz respeito as questões econômicas.
05. Estudiosos como Bernardo Campos, Paul Freston e Robinson Cavalcanti defendem a tese que existe uma “pentecostalização” das igrejas históricas e uma “historização” das igrejas pentecostais clássicas ou de primeira onda. Quais são as implicações desse fenômeno para o mundo protestante?
Sim, isto é visível. O pentecostalismo, no Brasil, vai fazer cem anos, portanto, tem história. “Historizou-se”. O fenômeno religioso é dinâmico e, para mal ou bem, cíclico. Práticas religiosas que eram “pentecostais” anos passados ou décadas, se tradicionalizam. Ademais, se fala em pentecostalismo com fenômeno típico do século XX, mas muito disso já aconteceu em séculos passados nos Avivamentos, nos Movimentos de Santidade, na história de “santos” ou “hereges” medievais.
O mundo protestante vai sempre se “renovar” e/ou se “tradicionalizar” a despeito de todos.
06. Como sociólogo, quais aspectos do pentecostalismo ainda faltam ser explorados pelos estudos sociais, especialmente pela Ciência da Religião?
Temos muitos trabalhos hoje sobre o fenômeno pentecostal na atualidade, mas ainda falta uma delimitação da “matriz pentecostal” (daí meu projeto de doutorado). Agora o universo pentecostal hoje é tão amplo, plural, pitoresco e cheio de novidades que sempre haverá alguma coisa a ser explorada. Como brinco em sala de aula: O fenômeno religioso é tão original, que de tédio a gente não morre!
07. Como conhecedor do pentecostalismo latino, quais são as principais diferenças entres os pentecostais brasileiros e os demais carismáticos desse subcontinente?
Vou indicar apenas duas singularidades do pentecostalismo brasileiro. Em um congresso de sociologia na Costa Rica, tomei um susto quando conheci um pastor assembleiano peruano, um dos mais importantes, que era também o principal líder ecumênico em seu país. Assembleiano ecumênico é escasso no Brasil, mas não América Latina.
A AD, na América Latina, foi fundada e financiada pela AD nos EUA (diferente da AD no Brasil de origem sueca), portanto, a AD latina de fala espanhola é congregacional, como é a AD americana. Qual a AD brasileira é, estritamente falando, congregacional? Eu, particularmente, não conheço nenhuma.
sábado, 31 de março de 2018
Logo que o moribundo expira fecham-lhe os olhos "porque, indo para a cova com eles abertos, em breve faleceria uma pessoa de sua casa; fecham-se pondo-lhes vinténs em cima", sendo tal feito normalmente por uma pessoa de família.
Logo que o moribundo expira fecham-lhe os olhos
"porque, indo para a cova com eles abertos, em breve faleceria uma pessoa
de sua casa; fecham-se pondo-lhes vinténs em cima" (23), sendo tal feito
normalmente por uma pessoa de família. A boca e as outras entradas do corpo são
também por vezes tapadas, "o ânus com uma estriga de linho, cera nos olhos
e no umbigo, algodão na boca, nariz e ouvidos" (24). É retirado da cama o
mais depressa possível, e depositado em cima de uma mesa, em cima das grades de
arar ou em terra: "Logo que alguém morre coloca-se sobre a grade ou sobre
o arado 'para ser bem aceite de Deus o pão que ele comeu em terra' " (25)
ou "para não ficar em penas" (26).
De seguida é lavado, por vezes com a ajuda de certas ervas, e barbeado.
A cara é coberta com um lenço ou com um pano: "por um lenço de seda,
geralmente o que serviu na época do casamento" (27). As pernas e as mãos
são atadas, estas com um rosário, um terço ou fita branca. São conhecidos casos
de alfinetes nos lábios, nas 13
roupas ou depositados no caixão. Enquanto o cadáver é
vestido vai-se falando com ele: "Levanta o braço F . (nome próprio),
levanta a perna F ., etc, à medida que o vai vestindo" (28).As roupas que
leva vestidas são as que habitualmente usa ou, mais frequentemente, com as suas
melhores peças, "os melhores fatos de ver a Deus" (29), ou com o fato
de casamento, normalmente pretos no caso dos homens, e guardados especialmente
para o último passo. Os homens podem ainda levar o seu chapéu e as mulheres os
seus brincos, muitas vezes hábitos religiosos (manto de Nossa Senhora das
Dores, entre outros). As crianças são vestidas de branco, bem como as mulheres
velhas solteiras que também levam um véu da mesma cor. A mortalha com que se
embrulha ou cobre o morto é habitualmente branca - lençóis, toalhas de renda
com letras bordadas a negro. A posição do cadáver no caixão é normalmente a
seguinte: decúbito dorsal e mãos postas ou atravessadas sobre o peito, os
braços "de maneira a que no juízo final possa fazer o sinal da cruz: o
braço esquerdo ao longo do corpo e o direito dobrado em ângulo sobre o
peito" (30). O fundo do caixão também não é deixado ao acaso: normalmente
é coberto com folhas de buxo ou de loureiro, com flores brancas, e sobre elas é
colocado um cobertor ou um lençol e um travesseiro. O forro é habitualmente
branco. O cadáver no caixão é acompanhado de objectos vários depositados pelos
familiares e amigos mais chegados: terços ou rosários, livros de orações, a
Bula da Santa Cruzada, contas e agulhas enfiadas com linhas e particularmente
alimentos, sobretudo água, vinho e pão. O chamado dinheiro de Caronte, pode
estar simplesmente depositado no fundo do caixão, dentro dos bolsos, ou
colocado sobre os olhos, e na boca: "No Marco de Canaveses, em algumas
freguesias, metem no caixão uma moeda de 5 reis, umas contas e uma agulha
enfiada. A moeda é para passar no campo de Josafaz e meter na boca do Diabo,
que está lá de guarda; as contas são para o morto se ir encomendando aDeus, e a
agulha para se remendar no outro mundo. Para outros, a moeda é para passar na
barca de S. Tiago (...). Noutras freguesias do mesmo concelho, lançam
igualmente no caixão a moeda de 5 reis, uma côdea de pão, para dar a 1 ou 2
ladrões que estão de guarda à ponte, e atam as mãos ao morto com um rosário (…).
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Noutras ainda, metem no caixão uma moeda, uma agulha
enfiada, um novelo de linhas, dedal e tesoura. A moeda é para Santo Hilário
deixar passar na ponte. Em Valdevez o pão que metem nas algibeiras da mortalha
é para a viagem. Nas freguesias de Barcelos é costume meterem uma Bula da Santa
Cruzada nas mãos dos defuntos, porque dizem que a pessoa que a dá alcança
muitas indulgências (...). Na freguesia de Santa Isabel do Monte, metem no
caixão do defunto uma pequena bilha com água, um bocado de pão de milho molhado
em vinho e uma moeda de 5 reis e dizem: Aí vai / vinho e pão / e cinco reis /
p'ra passar o rio Jordão " (31). "Algures no Minho colocam côdea de
pão e vinho no caixão (...) O mesmo costume se observa em todas as Terras da
Maia. Deve estar relacionado com o dinheiro de Caronte" (32). "A
crença num rio que os mortos tinham de passar quer em ponte quer em barco é
antiga e geral. Igualmente o uso do dinheiro de Caronte para passar a barca ou
a ponte. Na freguesia de Guifões, perto de Matosinhos, deita-se no caixão
dinheiro de cruzes para o morto passar S. Tiago de Galiza , onde há um barco a
que toda a gente tem de ir, vivo ou morto (...) O mesmo costume existe em
Sinfães, e creio que no Minho. No Porto e em Vila Real espeta-se um alfinete no
hábito do morto para este se lembrar dos vivos perante Deus. A Via Láctea é o
caminho de S. Tiago por onde as almas vão (Douro, Beira Alta, etc)" (33).
A presença do corpo morto obriga a um certo número de operações dentro da casa
onde ele se encontra: "Quando alguém morre, queima-se-lhe a palha do
enxergão. Se o fumo sobe a direito, a alma foi para o Céu; se se inclina para a
direita, foi para o Purgatório; se para a esquerda, foi para o Inferno (...)
(34) ; "Quando morre qualquer pessoa, deve-se virar o colchão e colocá-lo
ao alto, dos pés para a cabeça; não o fazendo, morre breve outra pessoa"
(35); "Quando morre alguém, desarruma-se a casa, isto é, tiram-se os
quadros das paredes, a loiça de vista da estanheira, as cortinas, e põe-se tudo
em sítio escondido, debaixo da cama e das mesas" (36). As portas são
abertas de par em par (37), e como "o corpo morto em casa é contagiante: o
fogo mantém-se apagado e a água é despejada dos recipientes" (38) e
"não se frita em casa 15
durante um ano, porque se frita a alma do morto" (39),
não se tece o linho que tenha estado no quarto do falecido e os animais são
tirados das cortes. No velório (ou velada , ou guardar o morto ) o cadáver é
iluminado por velas ou candeias muitas vezes trazidas pelos amigos e vizinhos
que vêm juntar-se à família: "(...) é costume cada vizinho levar uma
candeia ou candeeiro cheio de azeite à casa da família do morto, para alumiar a
este" (40). Os que entram - embuçados ou vestidos com roupa preta e
pesada, mesmo que se esteja em pleno Verão (41) - aspergem o morto com
água-benta, para o que se usa um ramo de alecrim ou de oliveira: "Depois
de rezar e deitar água-benta beija-se os pés do morto dizendo: «Foste vivo,
morto és, p'ra que não me apareças, eu te beijo os pés»" (42). "Ao entrar,
["as pessoas de família, vizinhas e amigas"], fazem, com um ramo de
oliveira que se encontra num pequeno vaso de água-benta, uma cruz no ar,
aspergindo sobre o defunto" (43). Os prantos e lamentos são feitos pelos
parentes enlutados, com muitos choros e gritos, ou por carpideiras ou
choradeiras, prática muito frequente: "As pessoas da família deste [do
defunto] permanecem junto do caixão e recebem as condolências com gritos
desesperados e patéticos, e, fazendo o pranto , enumeram as virtudes e as
bondades do morto, as mulheres com o xale pela cabeça, os homens com o capuz do
gabão" (44) ; "(...) quando alguém morre, vai uma pessoa de cada casa
dos vizinhos para a do falecido, e, de quarto em quarto de hora ou de meia em
meia hora, começam a chorar em altos gritos" (45) "Na freguesia do
Soajo (Arcos) costumam ir as Carpideiras, mulheres com saia pela cabeça a
chorar ao pé do morto, para o que recebem uma posta de bacalhau, um vintém de
pão, e vinho ou dinheiro correspondente a um quartilho" (46). Eis uma versão
poética exemplar das choradeiras (e também de outros aspectos da morte):
Marabilhas do meu belho Que tenho p'ra bos contar, Que me deu real e meio P'ra
me bestir e calçar; E disto o que sobejasse Que lo tornasse a mandar Para
comprar o toucinho Para fazer um jintar.16
Lebantei-me muito cedo, Bou dar co'o meu belho morto Antre
as pedras do lagar, Atirei-lhe cum fueiro, Acabei-o de matar; Fui chamar as
choradeiras Que o biesse chorar: Bem chorado ou mal chorado Bá o belho a
enterrar. Gatos da misericórdia, Retirai-mo das paredes Que num salte ele aos
quintais, Que ele era amigo de figos E de peras carbalhais; Ele era amigo de
grelos, Desterrou-me os meus nabais; A coba que le fijeres, De sete baras de
medir, Olhai que ele é muito fino, A casa num torne a bir: A pedra que le
botares De peso de cem quintais, Olhai que ele é muito fino, A casa num torne
mais" (47) Os prantos e lamentos
podem também ser feitos à janela de casa, junto à igreja ou nos lugares
públicos, e isto normalmente para anunciar à comunidade o falecimento:
"Dantes, no Barroso, se morria uma mulher casada, o marido ia à janela e
gritava, a chorar: «Adeus, F (...) que inda cá deixaste umas tantas ináguas,
uns tantos lençóis, umas tantas teias, um par de tamancos»" (48), sendo
idêntico costume igual para os homens casados falecidos. "Quando alguém
morria, ao outro dia vinham os parentes à igreja embuçados numa capa (...); as
mulheres em altas vozes queixam-se do Santo Padroeiro (S.Pedro) por tão cedo
lhes tirar deste mundo aquela pessoa falecida" (49). Durante toda a noite do velório os que
guardam o morto rezam orações de mistura com palavras de saudade, acontecendo
muitas vezes os homens jogarem as cartas ou contarem-se anedotas: "Por
vezes, e com o decorrer das horas, as conversas variam, tomam calor anedótico
(...)" (50) ; "Ainda hoje não é raro verem-se os 17
guardadores, para não dormirem, jogarem à bisca, servindo-se
da luz que alumia o cadáver" (51) .
Quem vela recebe da família do morto comida e bebida: "(...) os da
casa davam um banquete às pessoas que vinham chorar o morto, enquanto estava em
casa: pastéis de bacalhau e arroz, que se comiam à mão, porque se fosse com
faca e garfo cada garfada corresponderia a uma espetadela dolorosa no
cadáver" (52) . No dia seguinte ao
velório é frequente realizar-se na igreja uma missa de corpo presente. Quando
passa o cortejo fúnebre ( saimento ) quem estiver deitado (sobretudo se doente)
deve erguer-se, e os animais também, indo mesmo por vezes um homem à frente
incitando todos a levantarem-se. O caixão vai quase sempre fechado, mas os das
crianças em regra vão abertos. A caminho da igreja, se o saimento passa
"por uma encruzilhada de três caminhos, deve parar-se aí, abrir o caixão e
rezar um responso" (53) . Também acontece ser o morto baptizado de cinza:
"Quando passava para o cemitério saiu à rua uma mulher trazendo uma porção
de cinza, e dizem que misturada com sal torrado, que deitou por cima do morto,
dizendo: «Quando esta cinza embarrelar,/ E este sal temperar,/ É que hás-de cá
voltar.» A esta cerimónia chama-se propriamente o baptizado de cinza; para
semear o morto é preciso ir atrás do caixão até ao cemitério deixando cair sal
misturado com cevada" (54). "Em Basto (Minho) quando um defunto tem
de atravessar a ponte para ser enterrado na freguesia limítrofe, o seu padre
acompanha-o até ao meio da ponte. Aí pousa-se o corpo. Todos os que o
acompanham, parentes ou amigos (só do sexo masculino) levam punhados de areia
fina, e cada um por sua vez atira a areia ao rio, dizendo: - «F... (nome do
morto) tantos anjos te acompanhem para o céu, como areias caem na água» - Ao
atirarem as areias tapam os ouvidos de modo que não ouçam o barulho da queda na
água. Em seguida o pároco da outra freguesia, que vem do lado oposto da ponte,
levanta o cadáver e condu-lo à igreja" (55). No cemitério, antes do caixão
baixar à terra, são ditos responsos pelo padre e todos dizem orações e mesmo
palavras laudatórias do morto. Chora-se e grita-se pelo que desaparece:
"Aí [no cemitério], todos os acompanhantes pedem ao padre que 18
response os seus mortos, cerimónia impressionante que leva,
por vezes, várias horas. Toda a gente, de luto, aí reza pelos seus, ouvindo-se
aqui e além um soluço ou um lamento em voz alta" (56). Depois, todos os
presentes pegam em punhados de terra que beijam e que atiram para cima do
caixão, dizendo: "que a terra lhe seja leve" (57), embora a terra
possa também ser atirada directamente sobre o morto (58). Com o mesmo fin são
depositadas côroas de flores sobre o caixão. Os serviços do pároco - missas e
responsos são-lhe retribuídos com alimentos e dinheiro: obradórios, obradas ou
oblatas (59). Também é frequente a família do morto ou os participantes no
funeral distribuírem esmolas em géneros ou dinheiro aos mais pobres, os bodivos
(60). Ainda neste período podem ser realizadas refeições para os participantes
no velório e no funeral, oferecidas pelos parentes, o chamado agasalho (61). A
família do morto pode receber ofertas em dinheiro (62). Depois de decorrido o prazo legal de
enterramento, procede-se à exumação. Os ossos são limpos e depositados no
ossário ou, se este não existir, são embrulhados e colocados a um canto da
sepultura. A prática generalizada para o
fim de cada um após a morte é a inumação. No entanto, práticas como a
incineração ou o abandono dos corpos persistem de algum modo: as cinzas ainda
são sinónimo dos despojos mortais de um indivíduo; o abandono foi praticado
pelo menos até ao século XVI em estrumeiras e poços e as actuais valas comuns
nã são mais que a sua versão moderna (63).
No entanto, e independentemente da exumação, o morto continua ainda em
certas situações a estar materialmente presente entre os vivos: são os poderes
que demonstram possuir algumas partes do cadáver, e também os corpos
incorruptos (64). No primeiro caso, estão as faculdades curativas: os ossos,
queimados até às cinzas ou em carvão, curam a gota; dentes e dedos são
propícios à fecundidade; a terra de sepultura num copo de vinho cura os bêbedos
e pode também ser usada contra moléstias além de livrar de sezões. Quem tem uma
ferida livra-se dela facilmente limpando-a e metendo-a debaixo da cabeça de um
corpo morto, dizendo: "F., leva-me isto para o outro mundo". Uma
criança doente (porque a mãe quando estava grávida 19
viu um defunto) é curada com terra de sepultura fervida e
bebida durante nove dias. As alporcas (escrófulas) curam-se fazendo-as coçar
com as unhas de um corpo morto. Opostas a estas estão as faculdades maléficas:
os defuntos não devem passar por campos ou por sítios que não sejam de trilho
corrente porque são daninhos às terras, por causa do seu ar . O fel dos
defuntos rebenta ao terceiro dia, por isso, quem ajoelhar numa campa antes do
fim desse prazo fica com gota ou ictriz (icterícia). Ossos, terra e pregos de
sepultura são meios usuais de feitiços (O Grande Livro de São Cipriano contém
inúmeros exemplos de feitiços e receitas realizadas com as ossadas). "É muito perigoso tratar com menos
respeito um defunto, ou simplesmente uma caveira que se encontre insepulta, ou
até mesmo um objecto que pertença ao morto (...). Conta-se que um homem (...)
encontrou no adro uma caveira e, dando-lhe um pontapé, convidou-a para ir à
noite cear com ele. Efectivamente, à noite, quando estava a cear, apareceu-lhe
o defunto à porta, bateu e veio sentar-se à mesa para o convite. Depois de
acabar convidou o homem para no outro dia ir cear com ele. O homem muito aflito
foi por todos os conventos e encheu-se de relíquias e orações e foi ao tal
sítio, onde viu a campa aberta. Só se salvou por lhe ter dito o esqueleto que
uma freira tinha estado toda a noite a rezar pelo dele. Mas o homem morreu de susto passado pouco
tempo" (65). Por outro lado, o
corpo morto pode emitir sinais e comunicar com os vivos: se um assassino se
chega junto do cadáver da pessoa que matou, o nariz deste começa a sangrar
(pede vingança); a mão de um cadáver desenterrado por ladrões emite uma luz
(denunciando-os); e existem muitas outras formas do cadáver denunciar
criminosos (66). Quem morre também pode deitar uma lágrima do olho esquerdo
("é a alma a sair"). E é normal que os mortos se lamentem falando aos
vivos: "A caveira de meu pai / Sem ter língua me falou: / Vê, filho, o
triste estado / Em que a morte me deixou", ou: "Puz o pé na
sepultura, / Uma voz me respondeu: / Olha que estás pisando / Um amor que já
foi teu" (67). Embora não se baseando em materiais propriamente
etnográficos, Alda e Paulo Soromenho estudam sete casos em que o corpo morto
actua como um ser vivo (68). 20
A segunda intervenção dos cadáveres diz respeito aos
chamados corpos incorruptos . A forma mais encontrada é a de um corpo que ao
ser exumado se apresenta quase perfeitamente conservado, bem como a sua roupa,
ao mesmo tempo que exala um "odor de santidade, como de uma flor"
(69). Contudo, o contacto com o ar faz desintegrar a maior parte destes corpos.
Alguns dos casos mais conhecidos têm mais de cinco séculos, outros foram
exumados durante os séculos XIX e XX. Nos nossos dias é cada vez mais raro o
seu aparecimento, mas quando surgem são, como outrora, considerados santos e
como tal venerados.
“O Rei do Mundo” de René Guénon
“O Rei do Mundo” de René Guénon
Fonte: http://nasendadaverdade.blogspot.com.br/2009/04/o-rei-do-mundo-de-rene-guenon.html
Saint-Yves d’Alveydre numa obra póstuma publicada em 1910, referiu um misterioso centro iniciático, designado pelo nome de Agarttha. Em 1924, Ferdinand Ossendowski publicou um livro sobre as suas viagens através da Ásia Central, com relatos quase idênticos a Saint-Yves. Entre outras, realço as afirmações seguintes: a existência de um mundo subterrâneo com ramificações sob os continentes e os oceanos, pelos quais se estabelecem comunicações invisíveis entre todas as regiões da terra; a existência de momentos, durante a celebração subterrânea dos Mistérios Cósmicos, em que os viajantes que se encontram no deserto se detêm e até os próprios animais permanecem silenciosos; a história de uma ilha, já desaparecida, habitada por homens e animais extraordinários.
O título de “Rei do Mundo” aplica-se a Manu, o Legislador primordial e universal, cujo nome pode encontrar-se, sob diversas formas em povos antigos: Mina ou Ménès para os Egípcios, Menw para os Celtas e Minos para os Gregos. Manu não designa uma personagem histórica ou lendária, mas sim, um princípio, a Inteligência Cósmica que reflecte a Luz Espiritual pura e formula a Lei (Dharma) que regula as condições do nosso mundo e do nosso ciclo de existência. Ele é, ao mesmo tempo, o arquétipo do homem enquanto ser pensante (mânava).
Este princípio pode ser manifestado por um centro espiritual estabelecido no mundo terrestre, em que o chefe dessa organização representaria o próprio Manu, pelo grau de conhecimento atingido para poder exercer essa função. Ele seria a expressão humana do princípio face ao qual se anularia enquanto indivíduo. Tal será o caso de Agarttha, se este centro recebeu e preservou a herança da antiga “dinastia solar”.
Contudo Saint-Yves, não vê o chefe supremo de Agarttha como o “Rei do mundo”, mas antes como “Soberano Pontífice”. Ossendowski complementa que se trata de duplo poder, que é ao mesmo tempo, sacerdotal e real. O carácter “pontificial” é apanágio do chefe da hierarquia iniciática, que simbolicamente designa o que estabelece a comunicação entre este mundo e os mundos superiores.
Agarttha é o ponto fixo que todas as tradições concordam em designar simbolicamente como o “Pólo”, por ser sobre ele que se efectua a rotação do mundo, representado geralmente pela roda, quer para o Celtas, para os Caldeus e mesmo para os Hindus.
Este é o verdadeiro significado da suástica, símbolo divulgado por toda a parte, que na sua essência, representa “o signo do pólo”. Apesar da suástica poder ser um símbolo de movimento, não se trata de um movimento qualquer, mas de um movimento de rotação em torno de um centro imutável, e é ao ponto fixo, que se refere directamente este símbolo.
Na teoria da Cabala hebraica, os “intermediários celestes”, que se relacionam com este tema, são Shekinah e Metatron.
As passagens da escritura que se lhe referem são as que mencionam a instituição de um centro espiritual: a construção do Tabernáculo, a edificação dos Templos de Salomão e Zarobabel. Este centro constituído em condições regularmente definidas, era um lugar de manifestação divina, sempre representada como “Luz”.
As passagens da escritura que se lhe referem são as que mencionam a instituição de um centro espiritual: a construção do Tabernáculo, a edificação dos Templos de Salomão e Zarobabel. Este centro constituído em condições regularmente definidas, era um lugar de manifestação divina, sempre representada como “Luz”.
Shekinah apresenta-se sob múltiplos aspectos, entre os quais, um interno e outro externo. Representado Gloria e Paz, no seu aspecto interno no que respeita ao princípio e no aspecto externo no que respeita ao mundo manifesto. Lembremos relativamente ao primeiro aspecto das teorias dos teólogos acerca da “luz da glória” na qual se opera a visão beatífica, e em relação ao segundo, do sentido esotérico da “paz”, referida por todas as tradições como sendo um dos atributos fundamentais dos centros espirituais estabelecido neste mundo.
Por outro lado, Vulliand fala de um “mistério relativo ao Jubileu”, que corresponde num dado sentido à ideia de “Paz”, de onde conclui que “ a ideia central do Jubileu é o regresso de todas as coisas ao seu estado primitivo”. O que está implicitamente presente em todas estas considerações, é o Pardes, o centro deste mundo, que o simbolismo tradicional compara ao coração, centro do ser e residência divina (Brahma-pura, na doutrina hindu), sendo o Tabernáculo uma imagem deste centro.
Noutra perspectiva, Shekinah é a síntese dos sefirotes, na árvore sefirótica, a “coluna da direita” está ao lado da Misericórdia e a “coluna de esquerda” ao lado do Rigor; numa dada perspectiva pode-se identificar a Misericórdia coma Paz e o Rigor com a Justiça.
“A Cabala dá a Shekinah um irmão gémeo”, chamado Metatron. Este “vocábulo comporta todas as acepções de guardião, Senhor, enviado, mediador”; ele é “o Anjo da Face” e também “o Príncipe do Mundo”. Metatron, além do aspecto da Clemência, comporta também o da Justiça; não é apenas o “Grande Sacerdote”, mas também o “Grande Príncipe” e “chefe das milícias celestes”, ou seja, não contém só o princípio do poder real, mas também o do poder sacerdotal ou pontifical.
De resto, Melek, “rei” e Maleak, “anjo” ou “enviado”, não são mais do que duas formas de uma só e mesma palavra. Embora Mikäel se identifique com Metatron, apenas representa um aspecto dele, à face iluminada corresponde uma face obscura, representada por Samaël.
Segundo Saint-Yves, o chefe supremo de Agarttha tem o título de Brahâtmâ ou Brahmâtmâ, “suporte das almas no Espírito de Deus”, sendo os seus dois assessores Mahâtmâ, “representante da Alma Universal” e Mahânga, “símbolo de toda a organização material do Cosmos”. Estas três identidades correspondem à divisão hierárquica que as doutrinas ocidentais representam pelo ternário “espírito, alma e corpo”. Estes termos sânscritos referem-se sempre a princípios e nunca a seres humanos ou indivíduos.
Para Ossendowski, o Mahâtmâ “conhece os acontecimentos do futuro”, o Mahânga “ dirige as causas desses acontecimentos” e Brahâtmâ “pode falar com Deus face a face”, pois ele ocupa o ponto central onde se estabelece a comunicação directa do mundo terrestre com os estados superiores e através destes com o Princípio Supremo.
“Quando sai do templo, O Rei do Mundo irradia a Luz Divina”, diz Ossendowski.
Resumo dos capítulos I a IV de “O Rei do Mundo”, 1958, René Guénon, Edições 70, Lisboa
“Quando sai do templo, O Rei do Mundo irradia a Luz Divina”, diz Ossendowski.
Resumo dos capítulos I a IV de “O Rei do Mundo”, 1958, René Guénon, Edições 70, Lisboa
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