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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Epílogo duma era, prólogo doutra - Postado por L. S. Callins

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Epílogo duma era, prólogo doutra

         "Diante da incapacidade dos maiores e principais líderes mundiais em solucionar a sucessão de crises que se implantara na circunvizinhança do Mar Negro, dois conflitos distintos acabaram por se tocarem e se confundirem, estendendo-se de tal forma que em pouquíssimo tempo alguns governos caíram e a habitual troca de acusações entre O Último dos Vencedores e o principal herdeiro do Grande Vencido perdeu a aparência de blefe e abdicou da vestimenta ornada com as já corriqueiras sanções econômicas para fazer uso de intervenções militares aqui e ali.
         Vocês devem estar pensando que a maior de todas as grandes guerras teve, então, início ali, mas não. Em verdade, ela nem sequer começou, ao menos não em caráter oficial, pois com a queda de um sétimo governo dentre os países situados no coração do Velho Mundo, veio também a notícia do rápido alastrar de uma nova doença, um vírus que uma até então desconhecida seita cristã disseminou com o intuito de resolver os problemas mundiais de uma vez por todas e recomeçar a civilização do zero - mesmo que ao custo de múltiplos genocídios culturais.
         Quando questionado acerca da existência de algum antídoto, o único membro dissidente da seita que veio a público disse que 'Eles possuem a convicção de que a fé no Criador salvará os merecedores, é esse o arrebatamento deles' e isso chocou a muitos, não sendo poucos os que fugiram as regiões mais ermas dentro de seus próprios países ou de países vizinhos, mas, até onde se sabe, a doença maldita pegou até mesmo os que foram procurar refúgio na natureza montanhosa ou florestal.
         Lembro bem que houve um sujeito muito rico que investiu pesadamente no desenvolvimento de um navio-cidade autossustentável no qual a sua tripopulação muito bem selecionada por ele (basicamente, era constituída por ele, a esposa e mais a criadagem e suas respectivas famílias) passaria a viver enquanto uma equipe científica disposta num outro navio e com uma base em terra firme desenvolveria uma cura para a Praga das Pragas. Não me recordo o que aconteceu com essa gente.
         Também não me recordo do que houve com os mais fantasiosos que largaram tudo para alcançar e povoar outro mundo em menos de um década, ao menos essa era a intenção deles, intenção que não sei se foi concretizada. Entretanto, penso que as iniciativas privadas que surgiram, abertamente declaradas ou mantidas em segredo, tenham chegado mais próximo da realização, pois os corruptos e ineficazes governos de todo o mundo nada poderiam fazer por seus governados que passaram a viver na expectativa de uma morte prematura, quando decidiam esperar por ela ao invés de ir logo ao seu encontro.
         O fato é que até o presente momento, passados alguns anos após a disseminação da Praga das Pragas, os poucos sobreviventes sãos ou vivem em isolamento total dentro ou fora do que restou dos centros urbanos (muitos povoados por uma fauna antes zoológica, pois, sendo os animais não humanos imunes à Praga e o fim da humanidade sendo dado como certo, alguns governos deliberadamente soltaram os bichos encarcerados, enquanto em outros lugares grupos ambientalistas se encarregaram disso) ou vivem em pequenas comunidades andarilhas que diariamente combatem o principal efeito colateral da Praga das Pragas, as criaturas que chamamos de 'cristãos', de 'renascidos de cristo' ou (quando muito raramente nos deparamos com alguém ainda convicto de alguma das crenças antigas, sobretudo de algum ramo do cristianismo) de 'zumbis'.
         O motivo para chamá-los assim é tanto devido ao misto de raiva e mágoa contra a seita cristã que provou esta desgraça quanto à ironia de este episódio derradeiro da história humana assemelhar-se com certo trecho do chamado Apocalipse de João, no qual os mortos ressuscitariam após a vinda de Jesus Cristo, o deus dos Cristãos. Entretanto, há ainda outro termo, o qual fora difundido entre nós, nômades, por um etimologista: cretino, palavra vinda, ao que eu me lembre, de uma das línguas mais faladas no mundo à época do desastre, a língua portuguesa. Ela era derivada de uma muito antiga forma de se referir pejorativamente aos cristãos, quando o cristianismo ainda não havia ganho o status de religião oficial no Império Romano.
         Por fim, sei que muitos nascidos após a Praga das Pragas não terão a menor referência acerca de alguns nomes aqui mencionados, entretanto, decidi escrever esta e outras cartas, entregando-as em todas as comunidades andarilhas por mim conhecidas, como uma forma de manter viva a lembrança do que aconteceu e, como não sei se viverei o suficiente para escrever as outras cartas, termino esta primeira dizendo que os rumores de que os remanescentes da seita cristã responsável por tudo isso aparentemente foram felizes em erguer aquilo que eles chamavam de 'O Paraíso na Terra', a cidade impenetrável de Nova Jerusalém."

         Após ler em voz alta a carta assinada pelo primeiro líder dos (então) Andarilhos d'Oeste, sua tataraneta - uma jovem mulher de tez amadeirada e cabelos ruivos naturais, magra, conforme o tipo físico de sua gente, mas sem que os seios e a bunda fossem quase ausentes - olhou para cada um dos companheiros e disse:

          - Não há qualquer indício aqui que nos leve até Nova Jerusalém! - e então estendeu a carta que era protegida contra os efeitos do tempo por um material transparente chamado plástico e que não mais era fabricado - E essa foi a única das dezesseis cartas que achei!

         - Shienna, - disse um dos rapazes que constituíam a guarda pessoal da jovem - talvez tenha sido isso que os ladrões levaram daqui!

         - Isso explicaria o motivo pelo qual o arsenal e tudo mais está intocado. - completou um outro rapaz, o qual, diferentemente do que falou primeiro, tinha a tez clara e os cabelos escuros - Quero dizer, é mais provável que o ladrão morto e os amigos dele fossem exilados ou desertores de alguma comunidade querendo o mapa para Nova Jerusalém, penso que, quando ele balbuciou o nome da cidade, estava querendo dizer que eles queriam chegar até lá e não que vieram de lá.

         Ante a concordância de seus protetores acerca do ocorrido recente, a jovem Shienna traçou um novo plano:

         - Como ninguém na nossa comunidade possui o mapa do caminho para Nova Jerusalém memorizado, já que nunca tivemos essa necessidade, penso que o melhor seja destacarmos um grupo até a comunidade mais próxima para solicitarmos um guia e, então, interceptar os ladrões e assassinos de meu pai.

        - Como chefe de sua guarda pessoal, - disse o rapaz que primeiramente havia falado - estou de acordo com o plano, mas penso que você mesma, na condição de nova líder de nossa comunidade, deva ir junto do grupo tanto para apresentar-se às lideranças de Vahmon, quanto para demonstrar a seriedade do pedido de ajuda.

         Assim, uma vez estando todos de acordo quanto ao plano a ser executado, os seis deixaram a sala em que repousava boa parte do arsenal da comunidade e diversas relíquias de antes e depois da disseminação da Praga das Pragas.


http://lenosc.blogspot.com.br/2014/07/epilogo-duma-era-prologo-doutra.html?zx=2d8b8fa97c01a0e0





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