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domingo, 17 de setembro de 2017
Alain Touraine e sua Obra "Pensar Outramente"....
2. Algumas considerações sobre Alain Touraine Alain Touraine
é um dos grandes críticos da modernidade. É conhecido como o fundador da expressão "sociedade pós-industrial". Nessa sociedade, a resisitência ao poder de gestão se apoia no sujeito.
Para Touraine a indústria cultural da sociedade industrial vai exercer controle, não pelas formas tradicionais, mas por novos 7 mecanismos.
Assim, os movimentos sociais surgem como uma forma de contestação às diferentes formas de controle social Desse modo, Touraine centrou o seu trabalho tomando como base a "sociologia da ação", tendo como principal interesse o estudo dos movimentos sociais.
Para Touraine, a sociedade constrói o seu futuro por meio de mecanismos estruturais e das lutas sociais. Embora tenha escrito sobre o movimentos sociais em todo o mundo, teve interesse centrado nas experiência da América Latina.
Uma das características de seus escritos é a preocupação em mostrar as transformaçãoes sociais e culturais da sociedade moderna e industrial. Sua sociologia estabelece um diálogo crítico com os clássicos, sobretudo Durkheim e Marx.
Sua idéia é de que na sociedade contemporânea os conflitos sociais se generalizaram e obedecem uma outra ordem, ou seja, não se concentram mais nas dinâmicas econômicas.
Embora a indústria não tenha desaparecido, os conflitos de classe não são mais o centro das dinâmicas da sociedade pós-industrial e a relação trabalhador e proprietário dos bens da produção não ocupa o centro das dinâmicas sociais, já que esses conflitos de classe foram sendo insititucionalizados.
Segundo Touraine, na sociedade contemporânea vemos emergir outras reinvidicações sociais não mais pautadas em características econômicas, mas culturais, como é o caso dos movimentos feministas, de identidade sexual, estudantil, ecológico.
Denomina essas mobilizações de novos movimentos sociais, nos quais os sujeitos se transformam em atores sociais. Esses movimentos são mais comunitários e localizados, embora tenham uma abrangência socialmente ampla. Suas lutas se concentram no foco institucional e repercutem no âmbito das decisões políticas.
Em Touraine o sujeito existe enquanto contestação, ou seja, é o indivíduo que se rebela contra as condições sociais que lhes são impostas. O sujeito é a construção do indivíduo como ator. Para esse sociólogo, não se pode separar o indivíduo de seu contexto social.
Ele aponta uma tendência não mais de sujeição e predestinação, mas de um sujeito que se cria por si mesmo, um sujeito que se constrói na historicidade. Ou seja, o indivíduo se torna sujeito contestatório dentro de um contexto social.
Nesse sentido, o movimento social é um esforço de um ator coletivo para se apossar dos valores, das orientações culturais de uma sociedade, opondo-se a ação de um 8 adversário no qual esse ator está ligado, que tende a exercer controle sobre os indivíduos12 .
Seus livros abordam constantemente o tema da igualdade e diferença, conectados a idéia de direitos humanos, como uma nova condição de existência humana diante dos grandes desafios da sociedade contemporânea. Para ele, é necessário combinar os processos de internacionalização com o direito de ser, ao mesmo tempo, igual e diferente. Daí a importância que este autor dá aos novos movimentos sociais e culturais, que emergem com preocupação ligada à identidade cultural.
Ao localizar a emergência dos novos sujeitos sociais, Touraine faz um breve
mapeamento das mudanças sociais dos últimos tempos.
Considera que o processo
avançado da globalização mundial, fez emergir na sociedade um novo paradigma que
é cultural e veio substituir o paradigma social.
Esse novo paradigma permite nomear os
novos atores e os novos conflitos, já que as representações do eu e das coletividades
requerem um novo olhar. Touraine (2006) menciona que no primeiro século da
modernização a realidade social era compreendida por meio do paradigma político,
cujos conceitos como: ordem, desordem, povo, rei, revolução permitiam ler a realidade
política. Com a emancipação do poder político, depois das duas grandes revoluções,
passamos a compreender a realidade social por meio do paradigma econômico e
social, nos utilizando de conceitos como classe, riquezas, desigualdades, distribuição.
Entretanto, hoje, num contexto de economia globalizada, a mundialização fez ruir os
antigos modelos sociais, dando lugar ao paradigma cultural.
Na visão do autor, os
antigos paradigmas não dão mais conta dos sujeitos emergentes, cujas ações estão
centradas, não mais na política e na sociedade, mas na cultura.
Enquanto, os velhos
paradigmas estavam voltados para a conquista do mundo por meio da dominação e da
colonização, o paradigma cultural se volta para a conquista das pessoas. As lutas
atuais não estão mais centradas nos problemas políticos e sociais, mas culturais, onde
a busca pelos direitos culturais se constituem um fator chave do sujeito. Nesse novo
paradigma cultural, são as mulheres quem exercem um papel fundamental por serem
portadoras do que ele compreende como “sujeito pessoal”.
Segundo Touraine, o modelo ocidental de modernização que conquistou o
mundo, em nome da sociedade, começou a perder força. Isso quando os dominados se
12 As reflexões iniciais fazem parte de apontamento pessoal, feito durante as aulas da disciplina de
Sociologia Contemporânea
9
revoltaram contra os senhores representados pelos movimentos: operários, de
libertação nacional, feministas e ecologistas. Esses movimentos abalaram a elite
dirigente de proprietários, europeus, adultos do sexo masculino. Trabalhadores,
colonizados, mulheres, minorias de diversos tipos criaram para si uma subjetividade.
As vítimas, em certo momento, deixam de serem apenas vítimas; tomam
consciência de sua situação, protestam e falam. (TOURAINE, 2006. p.99). Isso porque
rejeitam a sua submissão, atribuem a si mesmo uma subjetividade e afirmam-se como
seres de direito, capazes de rejeitar a injustiça, a desigualdade e a humilhação
(TOURAINE, 2006. p. 101). Tais grupos, de certa forma, estariam mostrando que este
mundo não pode mais ser construído ao redor da conquista e da gestão das tensões
mais fortes, mas a partir da busca de si mesmo e da resistência às forças impessoais,
cuja estratégia poderia permitir que a liberdade se conservasse. O autor acredita que
essa forma de resistência traz dentro dela uma afirmação de si, não apenas como ator
social, mas como sujeito pessoal.
Assim para ele “a crise da sociedade pode nos salvar
de uma catástrofe se esta levar à construção da idéia de sujeito, à busca de uma ação,
que não procure nem o lucro, nem o poder, nem a glória, mas que afirme a dignidade
de cada ser humano” (TOURAINE, 2006, p. 102).
Sua postura é de que diante de tantas ameaças externas somos impelidos a
buscar no interior de nós mesmos a nossa unidade de sujeitos.
“O sujeito é mais forte e
mais consciente de si mesmo quando se defende contra os ataques que ameaçam sua
autonomia e sua capacidade de perceber-se como um sujeito integrado, ou pelo menos
lutando para sê-lo, para reconhecer e ser reconhecido como tal” (TOURAINE, 2006, p.
112). Touraine passa a desenvolver a compreensão de um sujeito que se constrói a si
mesmo, não somente enquanto sujeito coletivo, mas também como sujeito pessoal,
como alguém que defende sua posição de identidade e de direitos que, no caso de
Touraine, não chega a ser uma nova estética de si como em Foucault.
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