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segunda-feira, 31 de março de 2014

Experiência Social e Alienação by Professor Por Michel Aires de Souza

Experiência Social e Alienação

by Professor
Por Michel Aires de Souza
313800_500709076634381_728407019_nNossa vida é determinada por pequenas ações, sem importância. Ações contingentes, efêmeras, tecidas, como um retalho monstruoso, sem sentido e finalidade, totalmente insignificantes.  Cada indivíduo na totalidade da existência é totalmente inútil e sem importância.  A totalidade que nos cerca e nos oprime torna tudo impune.  A força descomunal do todo nos torna nada.  Os governos surgem e caem, instituições surgem e desaparecem.  Passamos horas, dias, meses e anos agitados, consumindo, sonhando e vivendo na mesma vida monótona. Tudo é tão linear, tão vão.  Tédio, sofrimento, agitação, dor e alegria se nivelam na eterna permanência do social.  Enquanto uma classe oprime e usufrui, a outra como Sísifo trabalha inultimente perpetuando sua escravidão.  De fato, tudo é insignificante, nada se modifica, apesar de pensarmos que nossa vida muda.  A realidade cotidiana e a nossa existência se igualam na ordem do todo. Cada dia, cada ato, cada amor, cada trabalho apesar de parecerem diferentes, são sempre iguais.  É inútil toda teoria, é inútil toda verdade, o que permanece é o rolo compressor da realidade que esmaga todo idealismo, todo desejo e todo o sonho.
         A alienação aparece na história da civilização quando o homem separa-se de sua atividade social e humana. A sociedade não é uma entidade abstrata separada do indivíduo, mas é uma extensão dele. São os indivíduos que constroem a realidade a partir de seu trabalho.  São as condições materiais de existência que definem quem nós somos. Quando há uma cisão entre o trabalhador e o produto de seu trabalho o indivíduo separa-se da sociedade, torna-se alienado. Mas hoje os homens não se encontram alienados apenas de seu trabalho, encontram-se alienado de sua própria experiência social. Significa dizer que as relações de dominação impedem os indivíduos de terem domínio sobre suas próprias vidas.  Para o sociólogo François Dubet a experiência social é uma forma dos indivíduos construírem o mundo. Essa construção se dá subjetivamente como representação do que é vivido e objetivamente como reelaboração crítica, como reflexão de indivíduos que julgam sua experiência redefinindo sua vida (1994, citado por Wautier, 2003).
            Na sociedade do capitalista os indivíduos não conseguem pensar criticamente sua vida e muito menos viver de forma autêntica.  Os nossos dramas, os nossos conflitos, as nossas frustrações, a nossa inseguranças e nossos medos são em grande parte causados por nossas circunstâncias sociais ou pelos valores de nossa sociedade que se encontram ameaçados. Nossa personalidade e estrutura de pensamento são reflexos das estruturas institucionais que nos governam. Mills (1969) já dizia que só podemos compreender nossa vida mais íntima, nossos circunstâncias, dificuldades e fracassos se formos capazes de conhecer nosso cenário histórico.   Os indivíduos geralmente possuem uma falsa consciência de sua vida, uma vez que não conseguem pensar e compreender as forças que determinam sua existência e comportamento. Compreender as estruturas e instituições que determinam nossa existência na sociedade é imprescindível para o conhecimento do que somos.
          O que impede os indivíduos de compreenderem suas vidas e as estruturas que os governam é racionalidade opressora do todo. As relações de dominação impedem os indivíduos de terem domínio sobre sua própria experiência social.   A mentalidade do todo se impõe a subjetividade de cada indivíduo em particular.  As representações coletivas, a cultura e a lógica do capital desenvolvem as formas de consciência e as formas de experiência social.  Somos constrangidos desde criança a internalizar as representações, os preceitos e valores de nossa sociedade. Seguir horários, desenvolver certos comportamentos, adquirir certos hábitos e modos de ser, compartilhar sentimentos e valores são partes de nossa socialização.  A ação do indivíduo, sua experiência, sua identidade está integrada ao meio social.  A sociedade e suas instituições sempre prevaleceram sobre os indivíduos, formando aquilo que Durkhein chamou de consciência coletiva. O indivíduo é, portanto, historicamente determinando no interior das práticas sociais por sua cultura e sociedade.
           Contudo, não somos determinados apenas pela integração social, nossa vida também é determinada pela lógica do capital.  A experiência do indivíduo, sua ação, sua identidade está subjulgada pelas relações econômicas onipresentes. O indivíduo é obrigado a participar e se determinar num mercado concorrencial.  Sua identidade é vinculada ao status quo, ao poder de influenciar os outros a partir da sua posição na sociedade. As relações sociais são definidas em termos de concorrência, de rivalidades de interesses individuais ou coletivos.   Cada indivíduo na microestrutura social encontra-se submetido à racionalidade instrumental e a um cotidiano de relações efêmeras e  reificadas.  A busca irracional pelo dinheiro, a competição no mercado de trabalho, o consumo exacerbado, a busca de reconhecimento simbólico, o trabalho estafante do dia-a-dia, os entretenimentos idiotizados não permitem ao homem determinar sua própria experiência social como projeto, como determinação consciente. O indivíduo deixa de ser livre, impedindo de realizar suas potencialidades, sua autonomia e sua autodeterminação. Sua vida deixa de lhe pertence, assim como seu tempo, sua interioridade e sua autonomia.
              Na sociedade em que vivemos se encoraja, se promove e se reforça um estilo de vida consumista.  Hoje não vivemos tanto na companhia dos homens, mas dos objetos.  Baudrillard já havia nos alertado que o conjunto das relações sociais já não é tanto com seus semelhantes, mas com as coisas.  Tornamos-nos funcionais na medida em que vivemos no ritmo dos objetos e em conformidade com sua sucessão permanente. Assim como as crianças que vivem com lobos tornam-se lobos, assim os homens que convivem com objetos tornam-se coisas. O resultado disso é que nos relacionamos com outros homens do mesmo modo que nos relacionamos com as coisas. As relações humanas tornaram-se reificadas e as relações afetivas foram banidas do cotidiano.   No mundo da economia de mercado tudo se nivela, a cultura do capital se universaliza e torna-se totalitário, não há mais espontaneidade, necessidade e experiências profundas entre os seres humanos.   
        Hoje as mercadorias tornaram-se tão onipresentes em nossas vidas que ganharam significados de tal forma que não consumimos mais bens, mas consumimos signos de prestígio. As mercadorias transcenderam sua condição fenomênica, uniram-se a linguagem ganhando sentido simbólico. O que os indivíduos buscam nos objetos da sociedade do consumo são seus significados. As mercadorias tornam-se atraente na medida em que criam símbolos de poder, status e pertencimento.  Cada um busca no mercado os produtos que possam agregar valor e status a sua personalidade. A realidade tornou-se um desfile de moda. O indivíduo deve se adaptar a esse mundo onde tudo é moda e é consumido como moda.  Lipovetskky (2007) denominou o mundo do efêmero, o reino da frivolidade, das novidades e da fantasia.
            Na sociedade capitalista os indivíduos são seres genéricos, anônimos e só podem se constituir como sujeito na medida em que se tornem mercadorias.  Eles precisam agregar valor a si mesmo buscando produtos no mercado para que sejam melhores e desejáveis para seu grupo social ou para o mercado de trabalho.  Existe na sociedade uma luta simbólica por reconhecimento social. As diferenças entre os indivíduos surgem em função da posição que ocupam em seu grupo  ou em seu trabalho.  Algumas posições ou funções conferem prestígio, fama, dinheiro e poder. Isso significa que os indivíduos devem adquirir mercadorias, recursos, competências, conhecimentos, comportamentos para que sejam cada vez melhores como indivíduos. Segundo Bauman (2008) o ser humano rejeita sua própria incompletude e procura superar essa solidão de ser invisível num mar de mercadorias. Os membros da sociedade de consumo são eles próprios mercadorias de consumo, e é a qualidade de ser uma mercadoria de consumo que os tornam membros autêntica dessa sociedade.
         Como podemos notar a racionalidade do todo impede o indivíduo de construir sua vida com autonomia e lhe tira atividade crítica, que lhe permite pensar a si mesmo como autor de sua própria existência.   A alienação, portanto, se aplica a essa incapacidade do agente ser dono de sua própria experiência social, uma vez que as relações entre os indivíduos são relações reificadas. Sua vida está determinada pelas estruturas sociais e pela lógica do capital. Dessa forma, a subjetividade percebe o mundo como obstáculo à plena humanidade.   “As relações sociais são percebidas em termos de obstáculos à expressão dessa subjetividade” (WAUTIER, 2003, p.181).
          A racionalidade instrumental cria um mundo onde as escolhas já estão pré-definidas. “A alienação se entende como privação da capacidade de ser sujeito, pela reificação das relações sociais; entende-se como desencantamento que esvazia a experiência social do seu sentido, através da racionalidade instrumental” (WAUTIER, 2003, p.184).  A grande consequência disso é a perda da autonomia do indivíduo. A racionalidade do capital eliminou qualquer tentativa de ruptura. O aparato produtivo e as mercadorias se impõem ao sistema social como um todo impedindo os indivíduos de serem sujeitos autônomos.  Por estas razões, a consciência foi naturalizada pelas formas de domínio social.
 Bibliografia
 BAUDRILLARD, Jean.  La société de consommation: ses mythes, ses structures. Paris: Edition Danoël, 1970.
 BAUMAN, Zigmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed, 2008.
 MILLS, Wright C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
WAUTIER, Anne M. Para uma sociologia da experiência. Uma leitura contemporânea: François Dubet.  Sociologia. Porto Alegre, ano 5, nº 9, 2003. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/soc/n9/n9a07 >  Disponível em  acesso em Fevereiro de 2013.
Professor | 27/02/2014 às 20:34 | Categorias: Filosofia | URL: http://wp.me/p7uL0-SY

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