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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mein Kanpf

PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I - NA CASA PATERNA

Considero hoje como uma feliz determinação da sorte que Braunau no Inn tenha sido destinada para lugar do meu nascimento. Essa cidadezinha está situada nos limites dos dois países alemães cuja volta à unidade antiga é vista, pelo menos por nós jovens, como uma questão de vida e de morte.
A Áustria alemã deve voltar a fazer parte da grande Pátria germânica, aliás sem se atender a motivos de ordem econômica. Mesmo que essa união fosse, sob o ponto de vista econômico, inócua ou até prejudicial, ela deveria realizar-se. Povos em cujas veias corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado. Ao povo alemão não assistem razões morais para uma política ativa de colonização, enquanto não conseguir reunir os seus próprios filhos em uma pátria única. Somente quando as fronteiras do Estado tiverem abarcado todos os alemães sem que se lhes possa oferecer a segurança da alimentação, só então surgirá, da necessidade do próprio povo, o direito, justificado pela moral, da conquista de terra estrangeira. O arado, nesse momento será a espada, e, regado com as lágrimas da guerra, o pão de cada dia será assegurado à posteridade.
Por isso, essa cidadezinha da fronteira aparece aos meus olhos como o símbolo de uma grande missão. Sob certo aspecto, ela se apresenta como uma exortação nos tempos que correm. Há mais de cem anos, esse modesto ninho, cenário de uma tragédia cuja significação todo o povo alemão compreende, conquistou, pelo menos, na história alemã, o direito à imortalidade. No tempo da maior humilhação infligida à nossa Pátria, tombou ali, por amor à sua idolatrada Alemanha, Johannes Palm, de Nuremberg, livreiro burguês, obstinado nacionalista e inimigo dos franceses. Tenazmente recusara-se, como Leo Schlagter, a denunciar os seus cúmplices, ou melhor os cabeças do movimento. Como este, ele foi denunciado à França, por um representante do governo. Um chefe de polícia de Ausburgo conquistou para si essa triste glória e serviu assim de modelo às autoridades alemãs no governo de Severing.
Nessa cidadezinha do Inn, imortalizada pelo martírio de grandes alemães, bávara pelo sangue, austríaca quanto ao governo, moravam meus pais no fim do ano 80 do século passado, meu pai como funcionário público, fiel cumpridor dos seus deveres, minha mãe toda absorvida nos afazeres domésticos e, sobretudo, sempre dedicada aos cuidados da família. Na minha memória, pouco ficou desse tempo, pois, dentro de alguns anos, meu pai teve que deixar a querida cidadezinha e ir ocupar novo lugar em Passau, na própria Alemanha.
A sorte de empregado aduaneiro austríaco se traduzia, naquele tempo, por uma constante peregrinação. Pouco tempo depois, meu pai foi para Linz, para onde finalmente se dirigiu também depois de aposentado. Essa aposentadoria não devia, porém, significar um verdadeiro descanso para o velho funcionário. Filho de um pobre lavrador, já noutros tempos ele não tolerava a vida inativa em casa. Ainda não contava treze anos e já o jovem de então fazia os seus preparativos e deixava a casa paterna no Waldviertel. Apesar dos conselhos em contrário dos "experientes" moradores da aldeia, o jovem dirigiu-se para Viena, como objetivo de aprender um ofício manual. Isso aconteceu entre 1850 e 1860. Arrojada resolução essa de afrontar o desconhecido com três florins para as despesas de viagem. Aos dezessete anos, tinha ele feito as provas de aprendiz. Não estava, porém, contente. Muito ao contrário. A longa duração das necessidades de outrora, a miséria e o sofrimento constantes fortaleceram a resolução de abandonar de novo o ofício, para vir a ser alguma coisa mais elevada. Naquele tempo, aos olhos do pobre jovem, a posição de pároco de aldeia parecia a mais elevada a que se podia aspirar; agora, porém, na esfera mais vasta da grande capital, a sua ambição maior era entrar para o funcionalismo. Com a tenacidade de quem, na meninice, já era um velho, por eleito da penúria e das aflições, o jovem de dezessete anos insistiu na sua resolução e tornou-se funcionário público. Depois dos Vinte e três anos, creio eu, estava atingido o seu objetivo. Parecia assim estar cumprida a promessa que o pobre rapaz havia feito, isto é, de não voltar para a aldeia paterna sem que tivesse melhorado a sua situação.
Agora estava atingido o seu ideal. Na aldeia, porém ninguém mais dele se lembrava e a ele mesmo a aldeia se tornara desconhecida.
Quando, aos cinqüenta e seis anos, ele se aposentou, não pôde suportar esse descanso na ociosidade. Comprou, então, uma propriedade na vila de Lambach, na alta Áustria, valorizou-a e voltou assim, depois de uma vida longa e trabalhosa, à mesma origem dos seus pais.
Nesse tempo, formavam-se no meu espírito os primeiros ideais. As correrias ao ar livre, a longa caminhada para a escola, as relações com rapazes extremamente robustos - o que muitas vezes causava a minha mãe os maiores cuidados - esses hábitos me poderiam preparar para tudo menos para uma vida sedentária. Embora, mal pensasse ainda seriamente sobre a minha futura vocação, de nenhum modo as minhas simpatias se dirigiam para a linha de vida seguida por meu pai. Eu creio que já nessa. época meu talento verbal se adestrava nas discussões com os camaradas.
Eu me tinha tornado um pequeno chefe de motins, que, na escola, aprendia com facilidade, mas era difícil de ser dirigido.
Quando, nas minhas horas livres, eu recebia lições de canto no coro paroquial de Lambach, tinha a melhor oportunidade de extasiar-me ante as pompas festivas das brilhantíssimas festas da igreja. Assim como meu pai via na posição de pároco de aldeia o ideal na vida, a mim também a situação de abade pareceu a aspiração mais elevada. Pelo menos temporariamente isso se deu.
Desde que meu pai, por motivos de fácil compreensão, não podia dar o devido apreço ao talento oratório do seu bulhento filho, para daí tirar conclusões favoráveis ao futuro do seu pimpolho, é óbvio que ele não concordasse com essas idéias de mocidade. Apreensivo, ele observava essa disparidade da natureza.
Na realidade a vocação temporária por essa profissão desapareceu muito cedo, para dar lugar a esperanças mais conformes com o meu temperamento.
Revolvendo a biblioteca paterna, deparei com diversos livros sobre assuntos militares, entre eles uma edição popular da guerra franco-alemã de 1870-1871. Eram dois volumes de uma revista ilustrada daquele tempo. Tornaram-se a minha leitura favorita. Não tardou muito para que a grande luta de heróis se transformasse para mim em um acontecimento da mais alta significação. Daí em diante, eu me entusiasmava cada vez mais por tudo que, de qualquer modo, se relacionasse com guerra ou com a vida militar. Sob outro aspecto, isso também deveria vir a ser de importância para mim. Pela primeira vez, embora ainda de maneira confusa, surgiu no meu espírito a pergunta sobre se havia alguma diferença entre estes alemães que lutavam e os outros e, em caso afirmativo, qual era essa diferença. Por que a Áustria não combateu com a Alemanha nesta guerra? Por que meu pai e todos os outros não se bateram também? Não somos iguais a todos os outros alemães? Não formamos todos um corpo único? Esse problema começou, pela primeira vez, a agitar o meu espírito infantil. Com uma inveja intima, deveria às minhas cautelosas perguntas aceitar a resposta de que nem todo alemão possuía a felicidade de pertencer ao império de Bismarck. Isso era inconcebível para mim.
Estava decidido que eu deveria estudar.
Considerando o meu caráter e, sobretudo o meu temperamento, pensou meu pai poder chegar à conclusão de que o curso de humanidades oferecia uma contradição com as minhas tendências intelectuais. Pareceu-lhe que uma escola profissional corresponderia melhor ao caso. Nessa opinião, ele se fortaleceu ainda mais ante minha manifesta aptidão para o desenho, matéria cujo estudo, no seu modo de ver, era muito negligenciado nos ginásios austríacos. Talvez estivesse também exercendo influência decisiva nisso a sua difícil luta pela vida, na qual, aos seus olhos, o estudo de humanidades de pouca utilidade seria. Por princípio, era de opinião que, como ele, seu filho naturalmente seria e deveria ser funcionário público. Sua amarga juventude fez com que o êxito na vida fosse por ele visto como tanto maior quanto considerava o mesmo como produto de uma férrea disposição e de sua própria capacidade de trabalho. Era o orgulho do homem que se fez por si que o induzia a querer elevar seu filho a uma posição igual ou, se possível, mais alta que a do seu pai, tanto mais quando por sua própria diligência, estava apto a facilitar de muito a evolução deste.
O pensamento de uma repulsa aquilo que, para ele, se tornou o objetivo de uma vida inteira, parecia-lhe inconcebível. A resolução de meu pai era, pois, simples, definida, clara e, a seus olhos, compreensível por si mesma. Finalmente para o seu temperamento tornado imperioso através de uma amarga luta pela existência, no decorrer da sua vida inteira, parecia coisa absolutamente intolerável, em tais assuntos, entregar a decisão final a um jovem que lhe parecia inexperiente e ainda sem responsabilidade.
Seria impossível que isso se coadunasse com a sua usual concepção do cumprimento do dever, pois representava uma diminuição reprovável de sua autoridade paterna. Além disso, a ele cabia a responsabilidade do futuro do seu filho.
E, não obstante, coisa diferente deveria acontecer. Pela primeira vez na vida fui, mal chegava aos onze anos, forçado a fazer oposição.
Por mais firmemente decidido que meu pai estivesse na execução dos planos e propósitos que se formara, não era menor a teimosia e a obstinação de seu filho em repelir um pensamento que pouco ou nada lhe agradava.
Eu não queria ser funcionário.
Nem conselhos nem "sérias" admoestações conseguiram demover-me dessa oposição.
Nunca, jamais, em tempo algum, eu seria funcionário público.
Todas as tentativas para despertar em mim o amor por essa profissão, inclusive a descrição da vida de meu pai, malogravam-se, produziam o efeito contrário.
Era para mim abominável o pensamento de, como um escravo, um dia sentar-me em um escritório, de não ser senhor do meu tempo mas, ao contrário, limitar-me a ter como finalidade na vida encher formulários! Que pensamento poderia isso despertar em um jovem que era tudo menos bom no sentido usual da palavra? O estudo extremamente fácil na escola proporcionava-me tanto tempo disponível que eu era mais visível ao ar livre do que em casa.
Quando hoje, meus adversários políticos examinam com carinhosa atenção a minha vida até aos tempos da minha juventude para, finalmente, poder apontar com satisfação os maus feitos que esse Hitler já na mocidade havia perpetrado, agradeço aos céus que agora alguma coisa me restitua à memória daqueles tempos felizes.
Campos e florestas eram outrora a sala de esgrima na qual as antíteses de sempre vinham à luz.
Mesmo a freqüência à escola profissional que se seguiu a isso em nada me serviu de estorvo.
Uma outra questão deveria, porém, ser decidida.
Enquanto a resolução de meu pai de fazer-me funcionário público encontrou em mim apenas uma oposição de princípios, o conflito foi facilmente suportável. Eu podia, então dissimular minhas idéias íntimas, não sendo preciso contraditar constantemente. Para minha tranqüilidade, bastava-me a firme decisão de não entrar de futuro para a burocracia. Essa resolução era, porém, inabalável. A situação agravou-se quando ao plano de meu pai eu opus o meu. Esse fato aconteceu já aos treze anos. Como isso se deu, não sei bem hoje, mas um dia pareceu-me claro que eu deveria ser artista, pintor.
Meu talento para o desenho, inquestionavelmente, continuava a afirmar-se, e foi até uma das razões por que meu pai me mandou à escola profissional sem contudo nunca lhe ter ocorrido dirigir a minha educação nesse sentido. Muito ao contrário. Quando eu, pela primeira vez, depois de renovada oposição ao pensamento favorito de meu pai, fui interrogado sobre que profissão desejava então escolher e quase de repente deixei escapar a firme resolução que havia adotado de ser pintor, ele quase perdeu a palavra.
"Pintor! Artista!" exclamou ele.
Julgou que eu tinha perdido o juízo ou talvez que eu não tivesse ouvido ou entendido bem a sua pergunta.
Quando compreendeu, porém, que não tinha havido mal-entendido, quando sentiu a seriedade da minha resolução, lançou-se com a mais inabalável decisão contra a minha idéia.
Sua resolução era demasiado firme. Inútil seria argumentar com as minhas aptidões para essa profissão.
"Pintor, não! Enquanto eu viver, nunca!" terminou meu pai.
O filho que, entre outras qualidades do pai, havia herdado a teimosia, retrucou com uma resposta semelhante mas no sentido contrário.
Cada um ficou irredutível no seu ponto de vista. Meu pai não abandonava o seu nunca e eu reforçava cada vez mais o meu não obstante.
As conseqüências disso não foram muito agradáveis. O velho tornou-se irritado e eu também, apesar de gostar muito dele. Afastou-se para mim qualquer esperança de vir a ser educado para a pintura. Fui mais adiante e declarei então absolutamente não mais estudar. Como eu, naturalmente, com essa declaração teria todas as desvantagens, pois o velho parecia disposto a fazer triunfar a sua autoridade sem considerações de qualquer natureza, resolvi calar daí por diante, convertendo, porém, as minhas ameaças em realidade.
Acreditava que quando meu pai observasse a minha falta de aproveitamento na escola profissional, por bem ou por mal consentiria na minha sonhada felicidade.
Não sei se meus cálculos dariam certo. A verdade é que meu insucesso na escola verificou-se. Só estudava o que me agradava, sobretudo aquilo de que eu poderia precisar mais tarde como pintor. O que me parecia sem significação para esse objetivo ou o que não me era agradável, eu punha de lado inteiramente.
Nesse tempo os meus certificados de estudos, apresentavam sempre notas extremas, de acordo com as matérias e o apreço em que eu as tinha. Digno de louvor e ótimo, de um lado; sofrível ou péssimo do outro.
Incomparavelmente melhores eram os meus trabalhos em geografia e, sobretudo, em história. Eram essas as duas matérias favoritas, nas quais eu fazia progressos na classe.
Quando, depois de muitos anos, examino o resultado daqueles tempos, vejo dois fatos de muita significação:
1.° Tornei-me nacionalista.
2.° Aprendi a entender a história pelo seu verdadeiro sentido.
A antiga Áustria era um "estado de muitas nacionalidades".
O cidadão do império alemão, pelo menos outrora, não podia, em última análise, compreender a significação desse fato na vida diária do indivíduo, em um Estado assim organizado como a Áustria.
Depois do maravilhoso cortejo triunfal dos heróis da guerra franco-prussiana, os alemães que viviam no estrangeiro eram vistos como cada vez mais estranhos à vida da nação, que, em parte, não se esforçavam por apreciar ou mesmo não o podiam.
Confundia-se, na Alemanha, sobretudo em relação aos austro-alemães, a desmoralizada dinastia austríaca com o povo que, na essência, se mantinha são.
Não se concebe como o alemão na Áustria - não fosse ele da melhor têmpera - pudesse possuir força para exercer a sua influência em um Estado de 52 milhões. Não se concebe também, sem essa hipótese, que, até na Alemanha, se tenha formado a opinião errada de que a Áustria era um Estado alemão, disparate de sérias conseqüências que constitui, porém, um brilhante atestado em favor dos dez milhões de alemães da fronteira oriental.
Só hoje, que essa triste fatalidade caiu sobre muitos milhões dos nossos próprios compatriotas, que, sob o domínio estrangeiro, acham-se afastados da Pátria e dela se lembram com angustiosa saudade e se esforçam por ter ao menos o direito à sagrada língua materna, compreende-se, em maiores proporções, o que significa ser obrigado a lutar pela sua nacionalidade.
Só então um ou outro poderá, talvez, avaliar a grandeza do sentimento alemão na velha fronteira oriental, sentimento que se manteve por si mesmo, e que, durar te séculos, protegera o Reich na fronteira oriental para finalmente se resumir a pequenas guerras destinadas apenas a conservar as fronteiras da língua. Isso se dava em um tempo em que o governo alemão se interessava por uma política colonial, enquanto se mantinha indiferente pela defesa da carne e do sangue de seu povo, diante de suas portas.
Como sempre acontece em todas as lutas, havia na campanha pela língua três classes distintas: os lutadores, os indiferentes e os traidores.
Já na escola se começava a notar essa separação, pois o mais digno de nota na luta pela língua é que é justamente na escola, como viveiro das gerações futuras, que as ondas do movimento se fazem sentir mais vibrantes.
Em torno da criança empenha-se a luta, e a ela é dirigido o primeiro apelo:
"Menino de sangue alemão, não te esqueças de que és um alemão; menina, pensa que um dia deverás ser mãe alemã".
Quem conhece a alma da juventude poderá compreender que são justamente os moços que com mais intensa alegria ouvem tal grito de guerra. De centenas de maneiras diferentes costumam eles dirigir essa luta em que empregam os seus próprios meios e armas. Eles evitam canções não alemães, entusiasmam-se pelos heróis alemães, tanto mais quanto maior é o esforço para deles afastá-los, sacrificam o estômago para economizarem dinheiro para a luta dos grandes Em relação ao estudante não-alemão, são incrivelmente curiosos e ao mesmo tempo intratáveis. Usam as insígnias proibidas da nação e sentem-se felizes em ser por isso castigados ou mesmo batidos. São, em pequenas proporções, um quadro fiel dos grandes, freqüentemente com melhores e mais sinceros sentimentos.
A mim também se ofereceu outrora a possibilidade de, ainda relativamente muito jovem, tomar parte na luta pela nacionalidade da antiga Áustria. Quando reunidos na associação escolar, expressávamos os nossos sentimentos usando lóios e as cores preta, vermelha e ouro, que, entusiasticamente, saudávamos com urras. Em vez da canção imperial, cantávamos "Deutschland über alles", apesar das admoestações e dos castigos. A juventude era assim politicamente ensinada em um tempo em que os membros de uma soi-disant nacionalidade, na maioria da sua nacionalidade conhecia pouco mais do que a linguagem. Que eu então não pertencia aos indiferentes, compreende-se por si mesmo. Dentro de pouco tempo, eu me tinha transformado em um fanático Nacional-Alemão, designação que, de nenhuma maneira, é idêntica à concepção do atual partido com esse nome.
Essa evolução fez em mim progressos muito rápidos, tanto que, aos quinze anos, já tinha chegado a compreender a diferença entre patriotismo dinástico e nacionalismo racista. O último conhecia eu, então, muito mais.
Para quem nunca se deu ao trabalho de estudar as condições internas da monarquia dos Habsburgos, um tal acontecimento poderá não parecer claro. Somente as lições na escola sobre a história universal deveriam, na Áustria, lançar o germe desse desenvolvimento, mas só em pequenas proporções existe uma história austríaca específica.
O destino desse Estado é tão intimamente ligado à vida e ao crescimento do povo alemão, que uma separação entre a história alemã e a austríaca parece impossível. Quando, por fim, a Alemanha começou a separar-se em dois Estados diferentes, até essa separação passou para a história alemã.
As insígnias do Imperador, sinais do esplendor antigo do Império, preservadas em Viena, parecem atuar mais como um poder de atração do que como penhor de uma eterna solidariedade.
O primeiro grito dos austro-alemães, nos dias do desmembramento do Estado dos Habsburgos, no sentido de uma união com a Alemanha, era apenas efeito de um sentimento adormecido mas de raízes profundas no coração dos dois povos o anelo pela volta à mãe-pátria nunca esquecida.
Nunca seria isso, porém, compreensível, se a aprendizagem histórica dos austro-alemães não fosse a causa de uma aspiração tão geral. Ai está a fonte que nunca se estanca, a qual, sobretudo nos momentos de esquecimento, pondo de parte as delícias do presente, exorta o povo, pela lembrança do passado, a pensar em um novo futuro.
O ensino da história universal nas chamadas escolas médias ainda hoje muito deixa a desejar. Poucos professores compreendem que a finalidade do ensino da história não deve consistir em aprender de cor datas e acontecimentos ou obrigar o aluno a saber quando esta ou aquela batalha se realizou, quando nasceu um general ou quando um monarca quase sempre sem significação, pôs sobre a cabeça a coroa dos seus avós. Não, graças a Deus não é disso que se deve tratar.
Aprender história quer dizer procurar e encontrar as forças que conduzem às causas das ações que vemos como acontecimentos históricos. A arte da leitura como da instrução consiste nisto: conservar o essencial, esquecer o dispensável.
Foi talvez decisivo para a minha vida posterior que me fosse dada a felicidade de ter como professor de história um dos poucos que a entendiam por esse ponto de vista e assim a ensinavam. O professor Leopold Pötsch, da escola profissional de Linz, realizara esse objetivo de maneira ideal. Era ele um homem idoso, bom mas enérgico e, sobretudo pela sua deslumbrante eloqüência, conseguia não só prender a nossa atenção mas empolgar-nos de verdade. Ainda hoje, lembro-me com doce emoção do velho professor que, no calor de sua exposição, fazia-nos esquecer o presente, encantava-nos com o passado e do nevoeiro dos séculos retirava os áridos acontecimentos históricos para transformá-los em viva realidade. Nós o ouvíamos muitas vezes dominados pelo mais intenso entusiasmo, outras vezes comovidos até às lágrimas. O nosso contentamento era tanto maior quanto este professor entendia que o presente devia ser esclarecido pelo passado e deste deviam ser tiradas as conseqüências para dai deduzir o presente. Assim fornecia ele, muito freqüentemente, explicações para o problema do dia, que outrora nos deixava em confusão. Nosso fanatismo nacional de jovens era um recurso educacional de que ele, freqüentemente apelando para o nosso sentimento patriótico, se servia para completar a nossa preparação mais depressa do que teria sido possível por quaisquer outros meios. Esse professor fez da história o meu estudo favorito. Assim, já naqueles tempos, tornei-me um jovem revolucionário, sem que fosse esse o seu objetivo.
Quem, com um tal professor, poderia aprender a história alemã, sem ficar inimigo do governo que, de maneira tão nefasta, exercia a sua influência sobre os destinos da nação?
Quem poderia, finalmente, ficar fiel ao imperador de uma dinastia que no passado e no presente sempre traiu os interesses do povo alemão, em beneficio de mesquinhos interesses pessoais?
Já não sabíamos, nós jovens, que esse Estado austríaco nenhum amor por nós possuía e sobretudo não podia possuir?
O conhecimento histórico da atuação dos Habsburgos foi reforçado pela experiência diária. No norte e no sul, o veneno estrangeiro devorava o nosso sentimento racial, e até Viena tornava-se, a olhos vistos e cada vez mais, estranha ao espírito alemão.
A Casa da Áustria tchequizava-se, por toda parte, e foi por efeito do punho da deusa do direito eterno e da inexorável lei de Talião que o inimigo mortal da Áustria alemã, arquiduque Franz Ferdinando, foi vítima de uma bala que ele próprio havia ajudado a fundir. Era ele o patrono da eslavização da Áustria, que se operava de cima para baixo, por todas as formas possíveis.
Enormes foram os ônus que se exigiam do povo alemão, inauditos os seus sacrifícios em impostos e em sangue, e, não obstante, quem quer que não fosse cego, deveria reconhecer que tudo isso seria inútil.
O que nos era mais doloroso era o fato de ser esse sistema moralmente protegido pela aliança com a Alemanha, e que a lenta extirpação do sentimento alemão na velha monarquia até certo ponto tinha a sanção da própria Alemanha.
A hipocrisia dos Habsburgos com a qual se pretendia dar no exterior a aparência de que a Áustria ainda era um Estado alemão, fazia crescer o ódio contra a Casa Austríaca, até atingir a indignação e, ao mesmo tempo, o desprezo.
Só no Reich os já então predestinados" nada viam de tudo isso.
Como atingidos pela cegueira, caminhavam eles ao lado de um cadáver e, nos sinais da decomposição, acreditavam descobrir indícios de nova vida.
Na fatal aliança do jovem império alemão com o arremedo de Estado austríaco estava o germe da Grande Guerra, mas também o do desmembramento.
No decurso deste livro terei que me ocupar mais demoradamente deste problema. Basta que aqui se constate que, já nos primeiros anos da juventude, eu havia chegado a uma opinião que nunca mais me abandonou, mas, pelo contrário, cada vez mais se fortificou. E essa era que a segurança do germanismo pressupunha a destruição da Áustria e que o sentimento nacional não era idêntico ao patriotismo dinástico e que, antes de tudo, a Casa dos Habsburgos estava destinada a fazer a infelicidade do povo alemão.
Dessa convicção eu já tinha outrora tirado as conseqüências: amor ao meu berço austro-alemão, profundo ódio contra o governo austríaco.
A arte de pensar pela história, que me tinha sido ensinada na escola, nunca mais me abandonou. A história universal tornou-se para mim, cada vez mais, uma fonte inesgotável de conhecimentos para agir no presente, isto é, para a política. Eu não quero aprender a história por si, mas, ao contrário, quero que ela me sirva de ensinamento para a vida.
Assim como logo cedo tornei-me revolucionário, também tornei-me artista.
A capital da alta Áustria possuía outrora um teatro que não era mau. Nêle se representava quase tudo. Aos doze anos, vi pela primeira vez "Guilherme Te!!" e, alguns meses depois, "Lohengrin", a primeira ópera que assisti na minha vida. Senti-me imediatamente cativado pela música. O entusiasmo juvenil pelo mestre de Bayreuth não conhecia limites.
Cada vez mais me sentia atraído pela sua obra, e considero hoje uma felicidade especial que a maneira modesta por que foram as peças representadas na capital da província me tivesse deixado a possibilidade de um aumento de entusiasmo em representações posteriores mais perfeitas.
Tudo isso fortificava minha profunda aversão pela profissão que meu pai me havia escolhido. Essa aversão cresceu depois de passados os dias da meninice, que para mim foram cheios de pesares. Cada vez mais eu me convencia que nunca seria feliz como empregado público. Depois que, na escola profissional, meus dotes de desenhista se tornaram conhecidos, a minha resolução ainda mais se afirmou.
Nem pedidos nem ameaças seriam capazes de modificar essa decisão.
Eu queria ser pintor e, de modo algum, funcionário público.
E, coisa singular, com o decorrer dos anos aumentava sempre o meu interesses pela arquitetura.
Eu considerava isso, outrora, como um natural complemento da minha inclinação para a pintura e regozijava-me intimamente com esse desenvolvimento da minha formação artística.
Que outra coisa, contrário a isso, viesse acontecer, não previa eu.
O problema da minha profissão devia, porém, ser decidido mais rapidamente do que eu supunha.
Aos treze anos perdi repentinamente meu pai. Ainda muito vigoroso, foi vítima de um ataque apoplético que, sem provocar-lhe nenhum sofrimento, encerrou a sua peregrinação na terra, mergulhando-nos na mais profunda dor.
O que mais almejava, isto é, facilitar a existência de seu filho, para poupar-lhe a vida de dificuldades que ele próprio experimentara, não havia sido alcançado, na sua opinião. Apenas sem o saber, ele lançou as bases de um futuro que não havíamos previsto, nem ele, nem eu.
Aparentemente, a situação não se modificou logo.
Minha mãe sentia-se no dever de, conforme aos desejos de meu pai, continuar minha educação, isto é, fazer-me estudar para a carreira de funcionário. Eu, porém, estava ainda mais decidido do que antes, a não ser burocrata, sob condição alguma. A proporção que a escola média, pelas matérias estudadas ou pela maneira de ensiná-las, afastava-se do meu ideal, eu me tornava indiferente ao estudo.
Inesperadamente, uma enfermidade veio em meu auxílio e, em poucas semanas, decidiu do meu futuro, pondo termo à constante controvérsia na casa paterna.
Uma grave afecção pulmonar fez com que o médico aconselhasse a minha mãe, com o maior empenho, a não permitir absolutamente. que, de futuro, eu me entregasse a trabalhos de escritório. A freqüência à escola profissional deveria também ser suspensa pelo menos por um ano.
Aquilo que eu, durante tanto tempo, almejava, e por que tanto me tinha batido, ia, por força desse fato, uma vez por todas, transformar-se em realidade.
Sob a impressão da minha moléstia, minha mãe consentiu finalmente em tirar-me, tempos depois, da escola profissional e em deixar-me freqüentar a Academia.
Foram os dias mais felizes da minha vida, que me pareciam quase que um sonho e na realidade de sonho não passaram.
Dois anos mais tarde, o falecimento de minha mãe dava a esses belos projetos um inesperado desenlace.
A sua morte se deu depois de uma longa e dolorosa enfermidade que, logo de começo, pouca esperança de cura oferecia. Não obstante isso, o golpe atingiu-me atrozmente. Eu respeitava meu pai, mas por minha mãe tinha verdadeiro amor.
A pobreza e a dura realidade da vida forçaram-me a tomar uma rápida resolução. Os pequenos recursos econômicos deixados por meu pai foram quase esgotados durante a grave enfermidade de minha mãe. A pensão que me coube como órfão, não era suficiente nem para as necessidades mais imperiosas. Estava escrito que eu, de uma maneira ou de outra, deveria ganhar o pão com o meu trabalho.
Tendo na mão unia pequena mala de roupa e, no coração, uma vontade imperturbável, viajei para Viena.

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