A salvação pela palavra
Salvamos vidas quando aquela pessoa oprimida por seus pais, por seus familiares, pelos amigos, na escola, na igreja, na vizinhança, pode contar somente com nossa palavra ou apenas com a noção de que não está sozinho, de que somos muitos e que sobrevivemos e somos felizes, que o mundo gira, a história avança e nossos direitos e qualidade de vida correm ao lado deles. Salvamos vidas quando uma das tantas pessoas que pensam em se suicidar, o deixa de fazê-lo por uma palavra, uma imagem ou uma multidão nas ruas, alegre, cantando, pulando, dizendo ao mundo que nossa vida vai muito bem – obrigada! -, apesar de tudo e de todos os que são contra. Quando mostramos, seja através do que for, que não somos invisíveis, que jamais seremos, pois não nos cabem nenhum gueto e nenhuma capa mágica que nos faça desaparecer. Quando mostramos que vivemos, trabalhamos, amamos, trepamos, nos divertimos. Quando mostramos o quanto somos fortes. Cotidianamente fortes e por toda uma vida.
E não desanime, não pense nem por um minuto que sua militância é desimportante, que não tem valor, que pode ter um efeito muito pequeno e um alcance limitado. Qualquer que seja sua atuação, lembre-se sempre que ela pode fazer total diferença entre a vida e a morte – física ou social – de alguém. Sempre haverá quem tente reduzir o significado deste ou daquele trabalho, seja ele qual for. E sempre haverá o fantasma do desalento de ver tanta coisa ruim ao redor, mas segure-se você também nas palavras de outros. Afinal, pense bem, podemos nos abater realmente com amargura de nossos algozes, quando um simples texto ou conversa on-line pode salvar uma vida?
Enquanto tantos criam um universo impossível para LGBTs viverem plenos e felizes, mesmo apenas através do que falamos e escrevemos, podemos criar todo um outro mundo: um espaço de salvação do que corrói por dentro, do que não deixa respirar lá fora. Portanto, fale, escreva, publique, tenha um blog, um vlog, um site, mergulhe nas redes sociais, divulgue idéias, produza, compartilhe informações, converse, chegue até as pessoas, promova ligação entre elas. É fantástico irmos às ruas, protestarmos, fazermos passeatas, paradas, reivindicações públicas, mas nada impede ou diminui a importância da propagação de palavras e idéias e sua força inegável na mudança de mundos e perspectivas de vida. Lembremos Sherazade.
@ivonepita
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